sexta-feira, 13 de novembro de 2015

FERNANDO PESSOA, RETRATO PRODUZIDO POR MARCOS DIAMANTINO

Retrado de Fernando Pessoa, produzido em Corel Drawn, por Marcos Diamantino, utilizando detalhe da obra "A grande onda de Kanagawa", de Katsushika Hokusai, século XIX.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

ARROZ DOCE

O que se passou me foi dito por uma avó, portanto não acrescentarei pontos fictícios nesse relato. Certo estou que se faria mais didático se me colorissem a tenra idade com aventuras de Narizinho ou Peter Pan, mas se uma temente a Deus, pouco supersticiosa, pretendeu expor-me este acontecimento naqueles dias, creio que, se o ouvisse hoje, não teria os cabelos eriçados de pavor como naquela época e, o meu leitor, talvez não chegasse a ter conhecimento da história. Lembro o dia, o mês, mas não lembro o ano. Poderia questionar Vó Mariana, que se acha ainda muito saudável, sobre o detalhe, entretanto imagino que o que lê deve estar curioso não com pormenores que não pesam na balança. Vó Mariana relatava o fato com tal fervor e suspense que fazia supor esconder-se atrás de seu magistério uma excelente contista. Vou até ocultar que possuíam uma dose de Rachel de Queiroz seus traços fisionômicos para ir direto ao assunto. Era um sétimo dia de agosto daquele ano mais ou menos remoto. Nem as ventanias da temporada serviam para deter a realização da festa na frente da igreja. A tempestade talvez impedisse, mas as beatas incluíam em suas rezas de oratório o pedido de não pingar uma gota sequer durante o período da quermesse, o que poderia deixar São José meio aborrecido. Tudo foi organizado com esmero na intenção da renda ser revertida à paróquia para a reforma da igreja, a mesma que me acolhe aos domingos para a missa e que já começa a descascar de novo. O leiloeiro era o de sempre. Vó Mariana relatou que não conheceu outro, o que a levava a pensar que não existia um leiloeiro magro. A banda permaneceria na banda de lá, uma laje sobre os mictórios enterrados. Banda sem o Realindo do trombone, falecido vítima de esquistossomose, ou doença do caramujo, ou barriga d’água, como queiram. Só espero que o Realindo não tenha levado Vó Mariana a mal quando ela asseverou que suas notas, ultimamente, faziam-se defuntas e fracas. Festança que se preze tem bandeirinhas de papel de seda tremulando nos varais e aquela também as tinha. Gritaria as prendas o leiloeiro para dar movimento à quermesse. Era daqueles de elevar pinto à categoria de peru recheado. A escolha das prendas concretizava-se na tarefa mais importante e coube o encargo para a dona Genoveva, cristã praticante, genitora de dona Mariana, minha avó, que era solteira na época dessa quermesse. E como já disse foge-me o ano exato. Minha bisavó Genoveva, protagonista dessa história, não tive o prazer de conhecer. Ocorreu que naquela antiga quermesse a bisa achou que os frangos morenos, as batatinhas crocantes, os pastéis e as mandiocas fritas douradas e até algumas leitoas assadas eram insuficientes para confirmar a excelência de seus dotes culinários e o mais importante: a sua ardorosa devoção aos acontecimentos paroquiais e ao santo padroeiro. Então decidiu a dedicada mulher preparar um tacho de arroz doce, a mesma iguaria que fez o padre Lourenço repetir a xícara, sempre com uma pitada de canela em pó, quando da visita à sua casa. Os pratos de doce ainda quentes, exalantes de aromático vapor, foram colocados sobre a mesa de madeira da varanda. A brisa que movimentava as avencas no entorno refrescaria os doces prometidos para o leilão da quermesse naquela noite. A bisa Genoveva pôs-se a cuidar de outros afazeres e voltou no momento em que abelhas começavam a girar sobre os doces. Para seu desapontamento, faltava um dos pratos. - Só pode ser traquinagem de pirralhos! Armou-se de um galho fino de jabuticabeira e saiu à procura do ladrão. Foi dar com ele escondido atrás do galinheiro lambendo o prato de ágata em flagrante delito. Deve ter entornado o doce com gana devido aos resquícios do caldo grudento nos dedos do moleque. - Tu me pagas, ladrãozinho duma figa! – pensou minha bisavó ao fitar o garoto com a vasilha na mão. Surpreendido o menino nem conseguiu escapar. Dona Genoveva segurou-o pelo braço. - Não me bate, dona Veva! As súplicas do moleque de nada adiantaram. As lambadas de vara comiam em suas pernas, mas respeitaram a barriga estufada. O menino esperneou e gritou feito os leitões no momento do sacrifício à causa paroquiana. Entretanto, custava ele pedir algo que não lhe seria negado? Olhos arregalados observaram a cena amoitados entre as bananeiras. Mas permaneceu quieto o vulto entre as folhagens, pois se fez algum ruído foi quando da correria para ver o que se passava ao filho. A dona Genoveva limpou o suor da testa e do buço e liberou o menino da coça. A bisavó tomou o prato limpo, atirou longe o galhinho de jabuticabeira e voltou com o seu coração vestido em arrependimento. A mãe do moleque era o vulto espreitado e foi ter com o filho no casebre em que moravam nas imediações da chácara de dona Genoveva. Todas as rezas do rosário às barras das vestes dos santos do oratório não serviram para aplacar a dor de consciência de minha bisavó. Criança é criança! O mais educado dos guris não se conteria em admirar o doce sem experimentá-lo. Debatia-se entre esses pensamentos que lhe enchiam de remorsos. Poderia ter levado a arte ao conhecimento dos responsáveis pelo pivete e jamais ter chegado àquele extremo. Em filhos dos outros não se bate. Mesmo naquele tempo as crianças tinham os seus direitos... A senhora Genoveva estava decidida a expor o caso à mãe do menino e pedir desculpas pelo ato impensado. Diria que estava tão movida pela vontade de ajudar a igreja que perdeu a cabeça. Cruzou o pasto, transpôs o riacho pela pinguela e chegou ao lavrador Rafael, pai do menino, que capinava o mandiocal à frente de seu rancho de pau a pique. - Boa tarde, Rafael! - Tarde, dona Veva. O que traz a senhora aqui? - Vim falar com a Carola. Ela se acha em casa? - A Carola tem saído todos os dias nessa horinha... - Pois tenha o obséquio, Rafael, de dizer que preciso muito falar com ela. Preciso pedir desculpas pela prensa que dei no teu pequeno outro dia... - Meu menino andou incomodando a senhora, dona Veva? Ara, sô... vou dar um tunda nesse moleque. – falou nervoso o lavrador. - Não foi nada, Rafael! Mesmo assim, faça-me o favor de dizer a Carola que estive aqui. - Vou falar, sim, dona Veva! - Ah, aproveita para falar pra Carola aparecer lá em casa quando quiser, Rafael. ...... Frisei que cabia mais a minha Vó Mariana um fardão de escritora do que um jaleco de mestra. Pois bem, não retiro o dito. Quisera ter eu o dom de contar casos como ela. Não balbuciava ao descrever que em um 13 de agosto, dona Genoveva recebia a visita da vizinha Carola. Genoveva estava na tarefa de regar as samambaias e as roseiras do seu jardim e enxugando as mãos no avental foi atender a visitante. Demonstrou satisfação em rever a vizinha porque viu a oportunidade de se desculpar pelo episódio ocorrido dias antes. Educadamente conduziu Carola para o interior da casa. - Espero que não tenha se zangado comigo pela prensa no teu caçula... – lembrou a senhora. - Não fiz conta daquilo, dona Veva. Moleque arteiro sossega com palmada mesmo... Genoveva foi à cozinha e arrebatou o bule da chapa do fogão à lenha e serviu café à visita. - Queria que não arreparasse, mas trouxe uma coisa para a senhora... Carola ergueu o pano de prato que cobria o conteúdo da vasilha que carregava. - É arroz doce! – exclamou a bisa Genoveva. - Mas não é tão saboroso quanto o da senhora. – disse Carola com humildade. Dona Genoveva percebeu a ironia do destino, mas pensou que o doce que quase azedou uma convivência, poderia muito bem servir para apaziguar a situação. Enquanto a visita tomava café, para não fazer desfeita, Genoveva pegou um pratinho para experimentar o presente. Ingeriu a primeira porção do doce, elogiou a doceira. E até convidou a vizinha para colaborar com as quermesses da paróquia. - Está uma delícia, Carola... ..... Vó Mariana conta que a desconfiança surgiu tempos depois de minha bisavó adoecer. Sem causas para a enfermidade da bisa Genoveva, os mais próximos a questionavam de todas as formas até que ouviram dela a história do arroz doce. Não poderiam nem mesmo questionar se, por vingança, Carola havia colocado no doce algum veneno de ação lenta. Os vizinhos mudaram-se e nunca mais se teve notícias dele. O fato é que a bisavó foi definhando até morrer. O pavor tomou conta dos familiares quando nos últimos dias da bisavó encontraram sob a pele dela dezenas de agulhas, umas pequenas, outras maiores. O fato ficou sem explicação, embora muitos o ligaram ao caso do arroz doce. Estudiosos hoje explicam fatos como esse afirmando que são as pessoas que espetam agulhas no próprio corpo. Será que minha bisavó nunca se desculpou pelo fato de surrar o menino da vizinha e penitenciava-se daquela forma? Vai saber... Só sei que não foi uma história inventada pela minha Vó Mariana. Outros da família lembram o fato... A menos que minha avó, como já disse, uma excelente contadora oral de histórias tenha feito com que todos acreditassem em algo saído de sua fértil imaginação.

domingo, 30 de novembro de 2014

Autorretratos: refletindo sobre a própria imagem

O aluno Garibaldi da Silva Costa, do curso de Licenciatura em Artes Visuais da UAB/UnB realizou trabalho de fechamento da disciplina de PIEA 2 utilizando o tema do Autorretrato. Com o título Autorretrato: reflexo de si mesmo, Garibaldi fundamentou a oficina observando as premissas da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa considerando os pilares da apreciação de obras de arte, realização do trabalho artístico e contextualização histórica da Arte. Conceitualmente, Garibaldi recorreu ao mito grego de Narciso para discutir a questão da vaidade muito presente na fase da juventude, característica do público trabalhado por ele: educandos do Ensino Médio. Essa escolha portanto foi acertada pois atende a um interesse natural dos jovens. Contemplando a História da Arte, o aluno Garibaldi propôs na oficina a leitura de autorretrados produzidos por artistas ligados a diferentes movimentos artísticos. Desde obras do Renascimento até o movimento Pop Art, vários autorretratos foram discutidos com os alunos. Nesse sentido pode contextualizar as variações dos autorretrados com os costumes de cada época e os estilos artísticos de cada período. Garibaldi mostrou-se atualizado aos costumes de sua época ao entender que a prática do selfie, o retrato que a pessoa tira de si mesmo utilizando o aparelho celular, poderia ser um facilitador no processo da atividade do autorretrato. Se o autorretrato instantâneo proporcionado pela tecnologia depende apenas da escolha de ângulo, luz, cor e pose, o trabalho de desenhar o próprio rosto a partir da imagem digitalizada exige o fazer artístico a partir da observação. O resultado depende um pouco de habilidade, porém, uma vez que os alunos tiveram contato com autorretratos de diferentes estilos feitos por artistas de diferentes movimentos, a liberdade para desenhar pode ter motivado os educandos. Baseando-se em autorretratos de um mesmo artista, realizado em épocas diferentes, Garibaldi mostrou que a obra reflete não apenas os costumes da época, mas as marcas que o tempo imprime nas feições do autorretratado. Além disso, o autorretrato podem conter também reflexos de anseios, fracassos, vitórias e muitas outras questões pretendidas pelo autor. Ao final da oficina, percebe-se que a atividade do autorretrato com alunos do ensino médio, à luz da Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, agregou sentido e várias vertentes de construir a própria imagem e de refletir sobre ela. Imagens: O aluno Garibaldi apresentando seu trabalho em webconferência no Polo da UAB/UnB Barretos e uma aluna durante oficina de Autorretrato trabalhando a partir de sua imagem no celular.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Exposição do Projeto "Cinema é Gibi" durante webconferência no Polo Barretos da UAB/UnB

O projeto Cinema é gibi foi apresentado no dia 22 de novembro, de 2014, a partir das 9h30 no Polo da UAB/UnB, de Barretos, São Paulo, através de webconferência, para tutores e colegas da disciplina de PIEA 2. Mesmo com algumas dificuldades de conexão em alguns polos, a atividade serviu para a apresentação dos trabalhos de todos os colegas. A apresentação do meu projeto Cinema é Gibi abriu os trabalhos. O projeto foi aplicado para alunos do 5o. ano A da Escola Municipal "Sagrados Corações", da cidade de Barretos, São Paulo, e buscou mostrar a relação existente entre a linguagem cinematográfica e a linguagem quadrinhística. Informamos que o desenvolvimento do projeto seguiu a proposta inicial apresentada nas discussões de PIEA 2, em que optamos pelo diálogo entre Cinema e Gibi por terem como ponto em comum a Arte Sequencial. A finalidade foi mostrar aos alunos de 5º. ano os processos de adaptação de linguagens, sendo exibido a eles, inicialmente, um programa de TV e na sequência os passos necessários para a criação de personagens de histórias em quadrinhos a partir do audiovisual. Revelamos aos colegas de PIEA 2 que a apresentação aos alunos constou ainda de exposição de esboços, de desenhos originais e de um gibi intitulado Os Estorientos, criado exclusivamente para a atividade. A culminância do projeto na escola foi uma oficina de desenhos em que os alunos criaram personagens a partir do universo lúdico trabalhado. Relatamos a experiência através da webconferência e revelamos que tivemos participação na produção do Programa de TV sendo de minha autoria os desenhos do gibi. Informamos que a escolha gerou uma tarefa trabalhosa, pois nos propusemos a criar o protótipo de um gibi com doze páginas desenhadas. Foram alguns dias para desenvolver os personagens e o gibi. A tiragem em xerox, com capa em xerox colorido foi de 30 exemplares, uma vez que a aula seria destinada a cerca de 20 alunos conforme o combinado na escola municipal “Sagrados Corações”, de Barretos, SP. Durante a webconferência mostrei alguns gibis comerciais utilizados como exemplo da adaptação de linguagem como Castelo Ra-tim-bum, Co-co-ri-có, Sítio do Pica-pau Amarelo e Trapalhões. Na sequência, mostramos esboços, artes finais e o protótipo do gibi distribuído aos alunos. Exibimos por meio de projetor trecho do programa que foi adaptado assim como imagens da apresentação do projeto aos alunos de 5º. Ano da Escola “Sagrados Corações”. Exibimos também os desenhos dos alunos, resultado da oficina realizada em sala de aula. Finalizamos a apresentação concluindo que o projeto cumpriu seus objetivos revelando participação efetiva e interessada dos educandos. Durante a webconferência nos foi sugerida a ideia de agregar a fotonovela como meio de transmitir a questão da adaptação de linguagem, o que consideramos uma proposta pertinente, pois a fotonovela também é uma forma de Arte Sequencial. Acompanhamos as apresentações presenciais dos colegas Garibalde e Waldecler, o primeiro que mostrou seu projeto sobre autorretratos e a segunda que trabalhou com a relação fotografia/desenho. Acompanhamos também as apresentações dos colegas de outros polos através da webconferência sendo que um dos sobre grafite/pichação despertou sobremaneira meu interesse. Mesmo com as interrupções devido a desconexões momentâneas, creio que a apresentação dos projetos de PIEA 2, via webconferência, cumpriu seus objetivos. Acima algumas imagens da atividade no Polo: a tutora presencial Alda Emília, esse aluno entre os colegas Waldecler e Garibalde e outro momento do evento.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

APRESENTAÇÃO DO PROJETO "CINEMA É GIBI"

O projeto CINEMA É GIBI buscou mostrar para alunos do 5o. ano A da Escola Municipal "Sagrados Corações", da cidade de Barretos, a relação entre a linguagem cinematográfica e a linguagem quadrinhística. O principal ponto em comum das duas linguagens é a Arte Sequencial. O projeto foi apresentado para 18 alunos, no dia 14-11-2014, no período das 10 às 12 horas, na sala de projeção da escola. A metodologia utilizada foi aula dialogada, apresentação de video, exposição de esboços e de originais de um gibi criado para a atividade, além de uma oficina de desenho. Os materiais utilizados foram gibis do Castelo Ra tim bum, Co co ricó, Sítio do Pica-pau Amarelo e Trapalhões para exemplificar a adaptação para o gibi de programas de TV e projetor para exibição do piloto do programa Kausos, do qual foi adaptado o gibi original criado para o projeto, gibi de 12 páginas produzido através de reprodução xerográfica. O conteúdo do gibi, intitulado OS ESTORIENTOS, com argumento e desenhos de minha autoria, foi uma adaptação do primeiro episódio do programa Kausos, do qual participei como autor, roteirista e responsável pela animação com massa escolar. Na última página, havia uma atividade para que os alunos, após o momento de fruição, tanto do video quando do gibi, criassem um novo personagem. A proposta era de que imaginassem um novo companheiro para a Turminha de Contadores de história que aparece na história. Houve desde o início da apresentação uma interação muito grande com os alunos. Através de perguntas feitas pelo ministrador da atividade, os alunos demonstraram que entenderam a proposta do projeto e que gostaram do novo gibi. Cada aluno ganhou um gibi para ler, desenhar e pintar. No final, do projeto distribuí meus primeiros autógrafos.
ACOMPANHE PELO YOUTUBE O EPISÓDIO DO PROGRAMA KAUSOS QUE DEU ORIGEM AO GIBI. https://www.youtube.com/watch?v=8qz3TMoLp1U

PIEA 2: AS PÁGINAS FINAIS DA HQ DO PROJETO "CINEMA É GIBI"

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

PIEA2 :PROJETO CINEMA É GIBI - NOVAS PÁGINAS DE "OS ESTORIENTOS"

O Projeto cinema é gibi será apresentado no dia 14 de novembro, às 10h00, na Escola Municipal "Sagrados Corações", de Barretos, SP, para alunos do Ensino Fundamental. Trata-se de uma oficina sobre adaptação de programa de TV para gibi.