sábado, 24 de novembro de 2012

ARTE POSTAL: A ARTE SELADA E CARIMBADA

Quando, em 1869, o diretor dos Correios austríacos assinou um decreto admitindo a circulação dos Cartões Postais com franquia reduzida talvez não imaginasse que abria uma nova possibilidade de expressão para artistas do mundo inteiro. Logo obras de artistas passaram a ser reproduzidas nos cartões postais. Os temas recorrentes eram paisagens, flora, fauna, mas havia também espaço para o satírico, o político e o erótico. No século XX, o Cartão Postal atinge o seu apogeu como meio de comunicação. Artistas de diferentes escolas utilizaram o Cartão Postal. Foi o Grupo Fluxus, no entanto, em 1962, o impulsionador da Arte Postal. Entre os motivos da criação da Arte Postal estavam o descontentamento com a política da Arte e das Galerias e a proposta da arte não comercial ao alcance de todos. Aproxima-se da Pop Art no sentido de propor a Arte produzida por qualquer pessoa. O principal incentivador da Arte Postal foi o dadaísta Ray Johnson ao criar a sua “New York Correspondance School of Art”. Johnson introduziu o conceito add and pass, ou “adiciona e repassa”, propondo a construção coletiva na Arte Postal. Segundo Bleus, citado por Fabiane Pianowski no artigo Arte Postal Arte , “a Arte Postal é um intercâmbio internacional de Arte, ideias e amizade, um instrumento humano de comunicação”. A Arte Postal chegou à América Latina em 1969. Um ano depois já era conhecida no Brasil que, em 1975, organizou a 1ª. Internacional de Arte Postal. A força dessa Arte cujas mensagens e ideias os Correios ajudavam a disseminar gerou perseguições no campo político. Arte-postalistas foram presos na América Latina e a ditadura impediu a realização no Brasil, em 1976, de uma exposição internacional de Arte Postal. Nos anos 80, estudava Comunicação Social na Universidade de Ribeirão Preto, SP, e participei do movimento da Arte Postal. Realizávamos troca de postais criados artesanalmente utilizando uma combinação variada de imagens (colagens, desenhos, ilustrações, fotografias) e textos (poesia, prosa). Os formatos extrapolavam os dos postais tradicionais, mas não houve nenhum tipo de impedimento de circulação por parte dos correios. Recebia material dos arte-postalistas João Proteti, Al Harrigan, Sávio Correia, etc. Num deles havia a frase: Solidariedade a Clemente Padin, um arte-postalista preso pela ditadura na América Latina. O interesse por essa modalidade fez com que em 1983, um amigo, Wagner Santos, e eu, realizássemos uma exposição de Arte Postal, na UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto, SP. Através da Disciplina de Tecnologias Contemporâneas na Escola 3, do Curso de Licenciatura em Artes Visuais, pude voltar a fazer Arte Postal e a refletir sobre o processo. E percebi que, como no passado, oferece oportunidade de criação de uma mensagem que pode até não ser considerada Arte, mas que será sempre surpreendente pela originalidade. Nessa nova experiência notei que, pelo desuso, os funcionários dos Correios têm que consultar os preços para a postagem de Cartão Postal. Procurei fazer os cartões na medida dos tradicionais, mas não há inconveniente de que sejam em outros formatos. Porém é preciso respeitar algumas regras básicas. Os Correios não aceitam “dizeres ou desenhos injuriosos, ameaçadores, ofensivos à moral ou ainda contrários à ordem pública ou aos interesses do País”, segundo texto constante no ícone Não Transportamos, no site WWW.correios.com.br . A Internet hoje possui várias ferramentas que possibilitam comunicação prática e rápida (e-mail) e, em muitos casos, em tempo real (MSN, salas de bate-papo). Nos sites de relacionamento, as mensagens também agregam imagens e texto e substituem de forma bem atual os atrativos da Arte Postal. E assim como a Arte postal, os recursos da Internet estão ao alcance da maioria das pessoas. Porém como a rotatividade é intensa nos sites de relacionamento, há pouca fixação de conteúdos devido a diversidade de mensagens. Por conta da facilidade de se criar a partir de arquivos da própria Internet há o problema da repetição de conteúdos e imagens. E o excesso de mensagens supérfluas, desinteressantes, agressivas e, em muitos casos, não direcionadas, pode levar a uma banalização desse meio. Nesse sentido a Arte Postal pode surpreender pela originalidade e pelo que tem de objeto real e não virtual, transformando-se, segundo a articulista Fabiane Pianowski em uma maneira “particular e especial de expressão”. Imagem: Série criada pelo arte-postalista Marcos Valério Diamantino e enviada para os colegas de curso. O tema é o lançamento da Caixa de Esboços do artista Lourenço Mutarelli.

Video Arte - Tarefa de TCE-2 - Artes Visuais UAB-UnB - Aluno: Marcos Val...

ALÉM DO AUDIOVISUAL: VIDEO ARTE

Marcos Valério Diamantino A tecnologia sempre seduziu o artista do ponto de vista da criação e utilização de novos de meios de expressão. A apropriação da ciência da fotografia, do cinema e do vídeo permitiu o fazer artístico numa evolução que parte da imagem para a imagem em movimento. E a visão não estereotipada da Vídeo Arte é o que a diferencia do mero registro audiovisual. No livro “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer”, organizado pelo editor Geral Jay Schneider, apenas cinco filmes entram na categoria Arte/Filme de Arte. Um deles é Koyaanisqatsi (1983), filme americano de Godfrey Reggio, um caleidoscópio de imagens que, segundo David Sterritt tem o poder de “provocar a mente”. Outro é o brasileiro “Limite” (1931), de Mário Peixoto, considerado obra de vanguarda e, segundo Jaime Biaggio, “incompreendido pelo público”. Em ambos: visões subjetivas. Os vídeos da iugoslava Marina Abramovic, artista performática, quebram paradigmas em se tratando de conteúdo e levam à reflexão justamente por criar mensagens visuais não estereotipadas. Com isso, podemos concluir que a subversão conceitual é o que transforma um audiovisual em Vídeo Arte. O tema de The Tree (é bom ter um árvore em casa) remete à imaginação infantil, no sentido de que busca agregar algo mais à imagem de uma simples árvore. O trabalho, embora de fácil execução, exigiu algum esforço na fase de produção para criar o non sense de árvore especial, que produz vários frutos diferentes. O vídeo tem apenas um corte no início e depois conclui-se num único plano sequência. O corte foi necessário para que a primeira imagem dê a impressão de árvore comum. O plano sequência transmite a ideia de que se trata de várias frutas em uma mesma árvore. Utilizou-se para a filmagem uma Câmera Sony PD de 3 CCDs com fita Mini DV. A edição foi realizada através do programa Premiere 1.5. O audio incidental foi gravado em um viveiro de aves para acentuar o contraste natureza versus urbanismo. A filmagem da árvore e a edição das imagens duraram cerca de 3 horas. A gravação do áudio demandou cerca de 4 horas porque houve a necessidade de deslocamento até o viveiro de aves. Como nada foi retirado de outros conteúdos, esse vídeo pode ser considerado original. Imagem: frame de The Tree (é bom ter uma árvore em casa), do aluno Marcos Valério Diamantino Disponível em: http://youtu.be/AFiBTG7jW6s diamantinoarts.blogspot.com REFERÊNCIAS: SCHNEIDER, S. J. “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer”, Sextante Editora – 2008 ABRAMOVIC, M. – Wikipédia

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SALVE JORGE: VALE A PENA VER DE NOVO?

O roteirista Doc Comparato, em “Da Criação ao Roteiro” (Rocco) explica que “a telenovela é uma obra aberta, com várias histórias que se inter-relacionam durante um longo período de tempo”. Glória Perez, autora de Salve Jorge, (TV Globo, 22h) rende-se à estética exótica de núcleos estrangeiros. Criou O Clone, que mostrava Marrocos, Caminho das Índias (Índia) e Salve Jorge que exibe a Turquia, sempre de forma estereotipada, pois se prende a antigas tradições do povo retratado. Salve Jorge tem também uma boate na Espanha para tratar do problema do tráfico de mulheres. Os núcleos no Brasil são recorrentes: há a favela (Morro do Alemão – RJ), um bairro carioca Classe A e, de quebra, um batalhão da Cavalaria do Exército. O blogueiro Maurício Stycer, do UOL, cita que também personagens se repetem como a turca Farid que é semelhante a outras duas personagens vividas pela mesma atriz Jandira Martini: Zoraide (O Clone) e Puja (Caminhos das Índias). O blogueiro critica a limitação que isso traz ao ator. O primeiro capítulo tem a função de prender a atenção por meio de ações espetaculares: a bela e jovem Morena (Nanda Costa) é vista como prenda em um leilão internacional. Há uma guerra entre as forças de ocupação da favela e integrantes do tráfico. São mostradas até cenas reais e como o protagonista é um militar, Theo (Rodrigo Lombardi) existe a possibilidade de discussão de problemas contemporâneos como o da violência. Há uma personagem vivida por Thamy Gretchen que, na vida real, é lésbica. Seu papel ainda não está delineado, mas só a presença da atriz indica que pode estar ligada à discussão de questões de gênero. Mas há exageros: em uma cena, Dira Paes, que vive a mãe de Morena (a moça pobre noiva do militar bonzinho) convida a futura sogra (que é contra o casamento do filho) e a amiga dela, ambas de classe média, porém tradicionais, a conhecer os bailes Funk do morro. E realiza na frente delas alguns movimentos bem eróticos. Outra característica da telenovela é mudar de rumo de acordo com a audiência. O início evidencia repetição de fórmulas e, dessa maneira, servirá apenas para reforçar as contradições sociais do País. Porém existe a possibilidade de alguns núcleos serem trabalhados, criticamente, como a questão do tráfico de mulheres. Em Salve Jorge há a proposta de mostrar as classes menos favorecidas. Talvez no sentido de aproximar a telenovela cada vez mais de seu público. Telespectadores que, nos últimos anos, começam a ficar mais visíveis no mercado consumidor. Por isso, a mídia aposta no aumento da venda de cerveja, shampoos, celulares etc. Uma das cenas de Salve Jorge mostra a casa da favelada Morena com paredes ainda inacabadas mas com um solene aparelho de TV digital no meio da sala.
Imagem: O militar bonzinho apaixona-se pela moça da favela em "Salve Jorge"

sábado, 10 de novembro de 2012

SHOW DE TRUMAN: A VIDA AO VIVO

O filme dirigido por Peter Weir, O Show de Truman, leva a um limite extremo a discussão sobre o Poder da Mídia. Durante 30 anos, Truman (Jim Carrey) tem a sua vida filmada para uma espécie de Reality Show. Sem se dar conta, ele vive no cenário de um programa transmitido 24 horas por dia. Todos à volta de Truman são atores ou figurantes. E nesse caso, além de manipular o público, a mídia engana inclusive o seu astro involuntário. A manipulação é personificada pelo diretor do programa Christoff (Ed Harris). No convívio de Truman estão a sua esposa Meryl (Laura Linney), o amigo Marlon (Noah Emerich) e Lauren (Natascha McElhone), figurante que se apaixona por ele. Se mantém milhões de espectadores fiéis pelo mundo, o programa também mexe com os envolvidos: Christoff intensifica o seu papel de pai controlador, a atriz que faz Meryl se transforma em prostituta de luxo pois cobra 10 mil dólares por cada noite ao lado de Truman, o ator que vive Marlon não consegue se livrar da culpa pelas suas mentiras e a figurante Lauren assiste ao fracasso de sua campanha para libertar Truman. Alegoricamente o filme mostra a relação entre criador e criatura, tema do clássico Frankenstein. Em O Show de Truman, no entanto, há também a metáfora da criação do mundo, representado pelo domo que contém a cidade cenográfica, com todos os seus elementos climáticos artificiais. Segundo o Wikipédia, Benson Parkinson, de uma associação de Mórmons, chega a relacionar o nome do diretor, Christoff, com o mal, Christ – off, ou o Anti-Cristo. E nome Truman significaria True Man, o homem verdadeiro. A ânsia pela espetacularização e audiência chega ao ponto do programa colocar a vida de Truman em risco quando ele inicia o seu processo de libertação. Mesmo assim fica evidente o controle da TV sobre as mentes dos espectadores que não reagem e se mantêm em uma espécie de torpor contemplativo. O filme discute também o poder do mercado ao desfilar uma série de merchandisings dentro do programa. E antecipa o boom dos Reality Shows na TV. O famoso Big Brother fez a sua estreia logo após a exibição do filme. Mas a proposta do BB é menos cruel porque os seus participantes sabem que estão em um programa. Os exemplos mais próximos do programa mostrado no filme são as Câmeras Escondidas, no Brasil chamadas de Pegadinhas. Quando verídicas, algumas situações são tão envolventes que as vítimas, após a revelação da verdade, demoram a acreditar que foram envolvidas em uma farsa. O final do filme, no entanto, é redentor para Truman e para o angustiado espectador, testemunha da busca de sentido para uma vida que não existiu. Imagem: Cena do filme “O Show de Truman”.
DESCRITIVO: A obra “Diana”, produzida pelos alunos de Artes Visuais, do Polo Barretos da UAB-UnB, Waldecler Naben, Luciana Marques, Maria Antonia Brigato e Marcos Diamantino, baseia-se nas fotonovelas de ação, suspense e espionagem publicadas pela Editora Vecchi nos anos 60/70, entre elas: Jacques Douglas, Lucky Martin e Jennifer. A produção era geralmente feita por estúdios italianos. Após a discussão do tema pelo grupo, os integrantes desenvolveram o roteiro. A produção das fotos ocorreu no interior da sede do Polo Barretos utilizando-se uma Câmera Digital Sony de 14.1 mp. A protagonista Diana foi representada pela aluna Luciana Marques e o alunos Marcos Diamantino viveu o Marginal. A aluna Maria Antonia atuou na produção e as fotos foram feitas por Waldecler e Marcos. A Fotonovela foi finalizada através do Programa Corel Drawn. Após a diagramação colocou-se os textos em balões encontrados na Internet e vetorizados para a montagem na página. Cada página foi transformada em JPG e colocada em arquivo do Word. A Equipe