domingo, 28 de outubro de 2012

ZORRA TOTAL: RETRATOS DO PRECONCEITO Marcos Diamantino
O programa humorístico Zorra Total é apresentado pela Rede Globo aos sábados às 22h20. O programa reúne uma diversidade de personagens e situações que se desenrolam em um metrô que pode ser uma metáfora do País, tanto que a condutora é uma sósia da Presidenta Dilma Roussef. Nos vagões encontram-se a pedinte Adelaide e sua filha que quando a esmola não lhes agrada viram esnobes exibindo um tablet. Há o vampiro que não aceita ter um filho homossexual. Outro quadro é o das crianças e suas frases que colocam seus pais em situações constrangedoras. Há a personagem da mulher moralista que se blinda diante de supostas conquistas e depois se arrepende de espantar o interlocutor. Outro quadro é o da striper que tira uma peça de roupa a cada pergunta respondida corretamente, mas que não se mostra totalmente porque a última pergunta é sempre um engodo. A constante mudança de quadros e personagens talvez explique a longevidade desse programa exibido há mais de uma década. São mudanças relativas pois muitas situações são recorrentes nos programas de humor dessa emissora. O pai que não aceita a homossexualidade do filho, o stripe-tease não consumado, a caricatura do presidente são ideias requentadas. Em muitas situações fica evidente a reprodução de estereótipos e preconceitos. A pedinte Adelaide é feita por um ator que representa uma negra caricatural e que exagera nos traços fisionômicos e nos trajes com a finalidade de explorar o ridículo. Recentemente a personagem chegou a ser acusada de praticar racismo por uma ONG. Há também uma índia monossilábica reforçando o preconceito do mito do selvagem ligado à população indígena. As piadas de gênero também são comuns. Uma dupla de personagens que se destacou recentemente é o do travesti Valéria com a sua amiga Janete. O travesti é mal-educado e suas frases são sempre de duplo sentido com apelo sexual, criando uma imagem de gay promíscuo. Janete, uma ingênua sonhadora, torna-se carismática pela força da interpretação da atriz. A mídia entende que o programa é destinado ao público adulto, pois nos intervalos comerciais são veiculadas propagandas de cerveja, carros, bancos etc. Mas a grande popularidade dos personagens Valéria e Janete entre as crianças revelou que o programa Zorra Total, mesmo tendo conteúdo impróprio, é visto também pelo público infantil. Conclui-se que o programa Zorra Total evoluiu apenas na qualidade técnica e estética, mas é representante fiel de humorísticos do início de TV brasileira. Programas como Balança Mas Não Cai, A Praça da Alegria, Planeta dos Homens, que sempre apresentaram conteúdos que exploram o riso a partir de preconceitos ligados às diferenças sociais, raciais e comportamentais. O impacto na sociedade brasileira de um programa desse tipo é o de realimentar uma visão politicamente incorreta da realidade. Considerando que a personagem Janete, a ingênua sonhadora, fez sucesso sem apelação, uma forma de renovar esse programa é apostar mais no carisma do humorista e menos na situação que geralmente é cercada de um componente de julgamento moral. Imagem: Personagem Adelaide é caricatural e reforça preconceitos relacionados à raça negra.

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