sábado, 25 de outubro de 2014

O Artista Pica-pau

A partir dos anos 50, o município de Barretos, SP, passou a realizar um evento filantrópico inspirado no universo da Pecuária, base de sua economia na época. A festa, realizada no mês de agosto, aniversário da cidade, homenageia o Peão de Boiadeiro. Nesse sentido apresenta como atrações aspectos da rotina dos integrantes das comitivas que, no lombo de mulas e cavalos, tocavam as boiadas pelas estradas do Brasil. As montarias, utilizadas pelos peões para amansar os animais, transformaram-se no espetáculo do rodeio, que é um dos principais programas da festa que chega aos dias atuais atraindo turistas de todo o Brasil. É um turismo baseado na lida de um campo nostálgico e, por isso, com destaque para o universo visual que valoriza a originalidade e a autenticidade. Entre os materiais mais comuns desse universo estão o couro e a madeira. É nesse contexto geral que o escultor e entalhador cearense, Francisco Haroldo Gomes da Silva, o Pica-pau, de 51 anos, se integrou a partir de 1998. A origem Pica-pau conta que era um menino de rua e que começou a aprender a Arte de esculpir e entalhar a madeira com os artesãos das feiras livres de Fortaleza, CE. O contato com os artesãos fez com freqüentasse um centro cultural e aperfeiçoasse o seu trabalho com um artista que esculpia carrancas, Mestre Bedi, e com um escultor clássico Marcos Reis, além de Mestre Juarez, um conhecido escultor cearense. No final da década de 90 visitou a Festa do Peão de Barretos e, ao perceber que a cultura local valorizava os objetos feitos com madeira, decidiu desenvolver o seu ofício de entalhador e escultor na cidade. Ao receber encomendas para realizar suas obras ganhou por aqui o apelido que o tornaria conhecido, inspirado no personagem de desenho animado, Pica-pau, criado pelo americano Walter Lantz. Pica-pau, o escultor, considera que a sua produção mais significativa esteja no Parque do Peão, local onde se realiza anualmente a Festa de Rodeio organizada pela Associação “Os Independentes”. Para esse espaço, o escultor produziu placas e tabuletas indicativas de madeira, em médio relevo, em que geralmente esculpe imagens e letreiros. A integração com o evento, divulgado nacionalmente pela mídia, fez com que o trabalho de Pica-pau ganhasse projeção, através inclusive de uma novela da Rede Globo, “América”, que explorou o universo country das festas de peão. Artista Popular Fiel às origens, durante algum tempo, Pica-pau participou de uma feira de artesanato que existia no entorno do Terminal de Ônibus Urbano da cidade de Barretos, na Praça 9 de Julho. Nesse local, vendia suas peças de menor proporção, tridimensionais, esculturas de médio relevo, e também esculpia e comercializava placas de madeira com nomes próprios. Aumentando a sua clientela, Pica-pau estabeleceu-se em um imóvel localizado na Rua 28 entre avenidas 39 e 37, onde criou o seu ateliê. Nele, até hoje realiza peças sob encomenda: placas indicativas de propriedades da zona rural e urbana (fazendas, sítios, chácaras, lojas e consultórios) e também trabalhos artísticos. As peças espalhadas por seu ateliê revelam os recursos artísticos de Pica-pau. Ele esculpe tanto em baixo e médio relevo como produz figuras tridimensionais. A respeito do ofício que escolheu, Pica-pau lamenta que é um trabalho recebido por muitos ainda de forma “hostil”. Isso, no entanto, não o impediu de buscar por aqueles que admiram e valorizam o seu trabalho. Ainda não explora todo o potencial da Internet para divulgar suas obras, limitando-se a utilizar para tal fim um e-mail: artepicapau@hotmail.com . Porém, Pica-pau revela que já tem trabalhos no exterior: Argentina, Chile, Estados Unidos, Israel, China e Japão... Nesses países, garante, é conhecido pelo nome de Prinsp, justificando o segundo nome devido ao fato de não poder utilizar a figura do personagem Pica-pau que é marca registrada, mundialmente conhecida. A Arte Haroldo Gomes, o Pica-pau informou que prefere imprimir em suas obras um tipo de Arte representativa. É admirador dos entalhadores nordestinos, notadamente dos que se dedicam à construção de peças para a literatura de cordel. Aliás, em muitos de seus trabalhos, principalmente no que se refere às diferentes hachuras, há um pouco do estilo de cordel. Suas ferramentas principais são os formões, as goivas de entalhe, o ferracanto, o buriu, martelo, porretes de madeira (batedores), as lixas, tintas, vernizes e corantes. A madeira, matéria-prima, dos trabalhos de Pica-pau é encontrada, segundo o escultor, em fazendas, obras de demolição e nas próprias madeireiras da cidade. Dá preferência para as madeiras moles como o eucalipto tratado, a sucupira mole, o cedro (macio), o mogno, a cerejeira e mesmo o pau-óleo, um pouco mais duro. Geralmente os temas desenvolvidos são sugeridos pelos clientes. Gosta de esculpir, no entanto, cenas bíblicas, santos e personagens míticos. Projetos Pica-pau trabalha pelo seu sustento, já que é solteiro e não tem familiares em Barretos. O que recebe vendendo placas de madeira representa o principal percentual na formação de seu orçamento. Uma placa de grandes proporções para a entrada de uma fazenda, por exemplo, consegue vender por mais de mil reais. Mas também realiza peças pequenas que vende a partir de 10 reais. Outro produto que costuma vender são as placas com escudos de times de futebol. Porém o escultor sonha em dedicar-se a um trabalho mais artístico em busca de reconhecimento não apenas local. Entre os seus projetos está o de realizar exposições a partir de 2014, iniciando-se em Barretos e depois em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, onde residiu durante uma temporada e mantém contatos. Outra atividade que demonstra motivação em desenvolver é a de “professor”. Com a ajuda de alguns ex-presidentes da Associação “Os Independentes”, organizadora da Festa do Peão, Pica-pau disse que montou uma escolinha no Parque do Peão, em que, no mês de agosto, ensina a sua Arte a crianças, jovens e adultos. Finalmente, Pica-pau só fica ressentido em não poder usar o seu apelido e nem a imagem associada ao personagem do desenho animado, porque já foi advertido sobre isso. Uma pena, porque aquele que já ouviu o som de um Pica-pau bicando um coqueiro, sabe que é bem parecido com o barulhinho feito pelas pancadinhas do formão de Haroldo Gomes na madeira, na construção de suas peças. Figs. 1: O artista com uma carranca e diante do seu principal “ganha-pão”, as placas de madeira. Fig. 2
: o artista diante de mais um tema sacro.

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