Ao propor a Inteligência Coletiva, fruto do compartilhamento virtual de conhecimentos, Pierre Levy refere-se a uma realidade que não está socializada. No filme de Ed Wood, “Plan Nine of the Other Space”, considerado o pior filme já realizado, um astrólogo se refere a “fatos futuros”. E o panorama proposto por Levy, mesmo que alguns incluídos, como nós, já convivam com essa realidade, por certo se refere a “fatos futuros”. É claro que, para uma parcela da população mundial, é possível acompanhar a evolução da tecnologia. O mundo digital causou revolução nos costumes notadamente com a apresentação da Rede Mundial de Computadores. Hoje, através de sites temos um acesso facilitado ao conhecimento universal. Por meio de e-mails e blogs podemos também compartilhar conhecimentos e contribuirmos para a construção da Inteligência Coletiva proposta por Levy. Contesta-se apenas a gratuidade de parte desse processo, uma vez que, mesmo serviços de compartilhamento considerados gratuitos, têm custos embutidos: custo do equipamento, da energia elétrica, da manutenção, do tempo do internauta.
O que faz a proposta da criação da Inteligência Coletiva estar ligada a “fatos futuros” é o documentário “O Buraco no Muro”, do repórter Rory O’connor. Os dados com que O’connor abre o trabalho são alarmantes. O documentário foi realizado na Índia, país com 1 bilhão de habitantes, ou seja, se existissem apenas seis pessoas em todo o planeta, uma seria indiana. Na Índia, somente ¼ da população tem acesso a água limpa e a metade é analfabeta. Como imaginar que num país assim, e que retrata outros países em condições parecidas, o mundo virtual possa ser assimilado em curto espaço de tempo? Não que não exista um potencial enorme para que o admirável mundo novo proposto por Levy possa se estabelecer. A experiência de colocar um computador em uma favela de Nova Delhi, como foi mostrado em “O Buraco no Muro”, demonstra o interesse natural, principalmente das crianças, pelas TICs. Alguém já disse que é como se as crianças já nascessem com o gene da atração pela tecnologia facilitando o aprendizado dos mecanismos que regem os meios digitais de transmissão e criação de cultura. A iniciativa do empresário da NIT com o seu projeto de inclusão digital nas favelas de Nova Delhi revela um dos muitos caminhos que devem ser abertos para que haja uma socialização nesse campo. Mais do que contribuir para a expansão do fenômeno do compartilhamento da cultura digital, o empresário sabe que é uma das maneiras de promover mobilidade social e, no campo mercadológico, formar os novos consumidores do segmento.
A educação sempre necessitou das tecnologias para melhorar a sua eficiência. Do lápis ao laptop o que se busca são condições mais facilitadas e eficientes de reter conhecimentos, gerar e compartilhar novos saberes. A internet oferece a interligação de conhecimentos que conduzirão, sem dúvida, à consolidação da Inteligência Coletiva. Porém, como houve a mão do homem para dar os primeiros passos dessa nova realidade, na escola é preciso que haja uma certa dose de monitoramento para que a utilização dessa tecnologia seja feita com ética e objetivos claramente voltados ao ensino e ao desenvolvimento individual. Mesmo que seja forte a ideia de que basta colocar um computador na frente de uma criança para que ela aprenda, como foi mostrado em “O Buraco do Muro”, o papel do professor é levar o aluno ao uso consciente dessa ferramenta.
Como uma faca, tecnologia pode ser usada tanto para fazer o bem, como também para promover o mal, dependendo do uso que se faz dela.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
sábado, 27 de agosto de 2011
AS NOVAS CLASSES SOCIAIS: PLUGADOS E NÃO-PLUGADOS
Vivenciamos um mundo tecnologicamente em movimento, onde Pierre Lévy conclui que caminhamos para a construção de um novo espaço antropológico, o espaço da cibercultura, no qual todos os indivíduos poderão ficar interligados em tempo real via internet, nascendo assim, o pensamento da inteligência coletiva, onde esse novo espaço de escrita será o local para a troca de conhecimento em rede. Para Pierre Levy, “o ciberespaço é a principal fonte para a criação coletiva de idéias, de forma que elas sejam usadas para o bem de todos, através da cooperação intelectual".
Embora essa seja uma tendência sem volta, é pertinente destacar que programas de inclusão digital no Brasil ainda são incipientes. Também pelo planeta, salvo as iniciativas dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, há uma parcela considerável da população mundial desconectada da rede. Há de se pensar num modo de acelerar essa socialização das TICs para que não não haja uma diferenciação de classes: os plugados e os não plugados. Classes que se diferenciam pelo poder econômico e suas condições de acesso à informatização. No Brasil considera-se que a população está menos pobre devido a programas governamentais de distribuição de renda. No entanto, falta ainda um programa consistente de inclusão digital. Entre os brasileiros com educação em níveis aceitáveis, o computador é um dos principais objetos de desejo. E de consumo. No entanto, quando segundo o jornal O Estado de S. Paulo (26-08-2011), constata-se que "metade das crianças brasileiras que concluíram o 3o. ano, em escolas públicas e privadas, nas capitais brasileiras, não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino", com conhecimentos abaixo da média em leitura e escrita, questiona-se não apenas a qualidade da educação, mas se essas crianças tiveram acesso às ferramentas tecnológicas. Conforme afirma Lévi, o ciberespaço é "o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de computadores". Sem a existência da internet seria impossível haver essa comunicação, essa sociabilidade com o mundo. [...] É o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Mas não podemos tomar por base um circulo de plugados, daqueles que participamos, seja através de correio eletrônico e sites de relacionamentos, e imaginar que não existe uma população alijada desse contexto. A nova ordem educacional absorve as TICs e o desafio é conhecê-las e aplicá-las em todas as salas de aula. No entanto, para que não haja um choque é preciso que se conheça não só a realidade dos contemplados mas também a dos alijados e ajudar no sentido de que essa infra-estrutura exista de fato.
Não apenas no ensino, a distância entre plugados e não-plugados deve diminuir. O computador nas residências deve ser considerado mais do que um eletrodoméstico. Uma vez que colabora para a ascensão social deveria ser de alguma forma subsidiado pelo governo.
Já sabemos que no “Ciberespaço” temos a “Cibercultura”, que corresponde a uma cultura que ocorre de forma unificada englobando todas as sociedades de forma virtual, formando uma cultura em um espaço universal. Neste espaço, não há distâncias entre uma sociedade e outra. Há uma mesma forma de comunicação, com idiomas diferentes, mas com o mesmo formato. Mas para que isso se materialize é necessário uma infraestrutura a que uma expressiva parcela das populações ainda não tem acesso.
Embora essa seja uma tendência sem volta, é pertinente destacar que programas de inclusão digital no Brasil ainda são incipientes. Também pelo planeta, salvo as iniciativas dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento, há uma parcela considerável da população mundial desconectada da rede. Há de se pensar num modo de acelerar essa socialização das TICs para que não não haja uma diferenciação de classes: os plugados e os não plugados. Classes que se diferenciam pelo poder econômico e suas condições de acesso à informatização. No Brasil considera-se que a população está menos pobre devido a programas governamentais de distribuição de renda. No entanto, falta ainda um programa consistente de inclusão digital. Entre os brasileiros com educação em níveis aceitáveis, o computador é um dos principais objetos de desejo. E de consumo. No entanto, quando segundo o jornal O Estado de S. Paulo (26-08-2011), constata-se que "metade das crianças brasileiras que concluíram o 3o. ano, em escolas públicas e privadas, nas capitais brasileiras, não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino", com conhecimentos abaixo da média em leitura e escrita, questiona-se não apenas a qualidade da educação, mas se essas crianças tiveram acesso às ferramentas tecnológicas. Conforme afirma Lévi, o ciberespaço é "o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial de computadores". Sem a existência da internet seria impossível haver essa comunicação, essa sociabilidade com o mundo. [...] É o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Mas não podemos tomar por base um circulo de plugados, daqueles que participamos, seja através de correio eletrônico e sites de relacionamentos, e imaginar que não existe uma população alijada desse contexto. A nova ordem educacional absorve as TICs e o desafio é conhecê-las e aplicá-las em todas as salas de aula. No entanto, para que não haja um choque é preciso que se conheça não só a realidade dos contemplados mas também a dos alijados e ajudar no sentido de que essa infra-estrutura exista de fato.
Não apenas no ensino, a distância entre plugados e não-plugados deve diminuir. O computador nas residências deve ser considerado mais do que um eletrodoméstico. Uma vez que colabora para a ascensão social deveria ser de alguma forma subsidiado pelo governo.
Já sabemos que no “Ciberespaço” temos a “Cibercultura”, que corresponde a uma cultura que ocorre de forma unificada englobando todas as sociedades de forma virtual, formando uma cultura em um espaço universal. Neste espaço, não há distâncias entre uma sociedade e outra. Há uma mesma forma de comunicação, com idiomas diferentes, mas com o mesmo formato. Mas para que isso se materialize é necessário uma infraestrutura a que uma expressiva parcela das populações ainda não tem acesso.
Melô do Plugado
BUNDA ACHATADA
Letra: Marcos Diamantino
Gênero: Rock Metal
Limpinho, cheirosinho, educadinho
Faço parte da nova ordem virtual
Não ponho a mão na massa
Sou um artista conceitual
Sou um talento do meu tempo
No mouse tudo invento
Meu medo é que a cada sentada
Acabe ficando com a bunda achatada
Bunda achatada, Bunda Achatada...
O notebook me deixou com a
Bunda achatada, Bunda Achatada...
Criança gosta de computador
Tinta suja a mão
spray detona o pulmão
O chumbo matou Portinari
Van Gogh arrancou a orelha
A boemia levou outros tantos
Eles correram riscos que não corro
Meu medo é que a cada sentada
Acabe ficando com a bunda achatada
Bunda achatada, bunda achatada
O notebook me deixou com a
Bunda achatada, bunda achatada...
Meu desafio me deixa insone
Se não misturar o clássico com o novo
Vou ter que implantar silicone
Bunda achatada, bunda achatada
O notebook me deixou com a
Bunda achatada, bunda achatada
Letra: Marcos Diamantino
Gênero: Rock Metal
Limpinho, cheirosinho, educadinho
Faço parte da nova ordem virtual
Não ponho a mão na massa
Sou um artista conceitual
Sou um talento do meu tempo
No mouse tudo invento
Meu medo é que a cada sentada
Acabe ficando com a bunda achatada
Bunda achatada, Bunda Achatada...
O notebook me deixou com a
Bunda achatada, Bunda Achatada...
Criança gosta de computador
Tinta suja a mão
spray detona o pulmão
O chumbo matou Portinari
Van Gogh arrancou a orelha
A boemia levou outros tantos
Eles correram riscos que não corro
Meu medo é que a cada sentada
Acabe ficando com a bunda achatada
Bunda achatada, bunda achatada
O notebook me deixou com a
Bunda achatada, bunda achatada...
Meu desafio me deixa insone
Se não misturar o clássico com o novo
Vou ter que implantar silicone
Bunda achatada, bunda achatada
O notebook me deixou com a
Bunda achatada, bunda achatada
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
LEMBRANDO CARL BARKS: O HOMEM DOS PATOS
Quando criança, descobri um tesouro. No quartinho de despejo da casa de uns tios encontrei uma estante com a coleção completa, até então, dos gibis de Tio Patinhas e do Mickey.
Passava toda a tarde folheando aquelas revistas de Histórias em Quadrinhos. O Tio Patinhas era Almanaque e tinha a lombada quadrada. O Mickey era grampeado. Gostava das duas publicações. Mas hoje gostaria de falar do gibi do Tio Patinhas porque nele havia umas histórias que me fascinavam. Geralmente eram as histórias em que o Donald e seus sobrinhos, Huguinho, Zezinho e Luizinho, por imposição de seu tio milionário, se metiam em fantásticas aventuras pelo mundo, algumas delas recheadas de personagens mitológicos como o Minotauro e as Hárpias. Gostava também dos vilões que assombravam Tio Patinhas como os Irmãos Metralha e a Maga Patalógika. Mais tarde não só eu, como todos os fâs dessas histórias, descobrimos que elas não eram desenhadas pelo Tio Disney, embora todas tinham a assinatura dele. Fãs americanos descobriram que as aventuras eram desenhadas por Carl Barks. Um americano que começou fazendo desenhos animados da Disney e depois passou a desenhar HQs criando não só o Tio Patinhas como Os Irmãos Metralha, a Maga, o Professor Pardal e outros personagens. Barks desenhava as suas aventuras fazendo pesquisas em sua coleção da Geográfica Universal e fazia com que a garotada viajasse através da sua imaginação. Barks ficou conhecido como o Homem dos Patos. Roteirizava e desenhava suas histórias em seu rancho de onde não saía. Após a aposentadoria, conseguiu permissão da Disney para pintar os seus personagens em cenas de suas melhores histórias. Os quadros a óleo dessa série hoje são valiosos e ilustraram as mais de 40 capas da Coleção "O Melhor da Disney - As Obras Completas de Carl Barks" lançada em 2008 pela Abril. Barks morreu em 25 de agosto de 2000, mas deixou um legião de fâs. A Arte Visual de Barks agradou as crianças de ontem e agrada as de hoje. Mesmo com traço cômico, Barks consegue exprimir todo tipo de sentimento atráves das expressões de seus personagens. Conheci recentemente outro fâ de Barks, Marcelo Alencar, que traduziu todas as histórias do Homem dos Patos. Nunca os Patos tiveram tanta alma como no traço de Barks. Ele tinha predileção pelos anti-heróis como o Pato Donald e mesmo as crianças de Barks tinham pouco de políticamente correto. Como diria Ziraldo sobre Pererê: "não faço histórias educativas, faço histórias com que as crianças se identifiquem". Por essas e por outras é que admiro o trabalho desses dois: Barks e Ziraldo. De Ziraldo falarei mais pra frente...
Assinar:
Postagens (Atom)