segunda-feira, 29 de agosto de 2011

E O HOMEM PISOU MESMO NO CIBERESPAÇO?

Ao propor a Inteligência Coletiva, fruto do compartilhamento virtual de conhecimentos, Pierre Levy refere-se a uma realidade que não está socializada. No filme de Ed Wood, “Plan Nine of the Other Space”, considerado o pior filme já realizado, um astrólogo se refere a “fatos futuros”. E o panorama proposto por Levy, mesmo que alguns incluídos, como nós, já convivam com essa realidade, por certo se refere a “fatos futuros”. É claro que, para uma parcela da população mundial, é possível acompanhar a evolução da tecnologia. O mundo digital causou revolução nos costumes notadamente com a apresentação da Rede Mundial de Computadores. Hoje, através de sites temos um acesso facilitado ao conhecimento universal. Por meio de e-mails e blogs podemos também compartilhar conhecimentos e contribuirmos para a construção da Inteligência Coletiva proposta por Levy. Contesta-se apenas a gratuidade de parte desse processo, uma vez que, mesmo serviços de compartilhamento considerados gratuitos, têm custos embutidos: custo do equipamento, da energia elétrica, da manutenção, do tempo do internauta.
O que faz a proposta da criação da Inteligência Coletiva estar ligada a “fatos futuros” é o documentário “O Buraco no Muro”, do repórter Rory O’connor. Os dados com que O’connor abre o trabalho são alarmantes. O documentário foi realizado na Índia, país com 1 bilhão de habitantes, ou seja, se existissem apenas seis pessoas em todo o planeta, uma seria indiana. Na Índia, somente ¼ da população tem acesso a água limpa e a metade é analfabeta. Como imaginar que num país assim, e que retrata outros países em condições parecidas, o mundo virtual possa ser assimilado em curto espaço de tempo? Não que não exista um potencial enorme para que o admirável mundo novo proposto por Levy possa se estabelecer. A experiência de colocar um computador em uma favela de Nova Delhi, como foi mostrado em “O Buraco no Muro”, demonstra o interesse natural, principalmente das crianças, pelas TICs. Alguém já disse que é como se as crianças já nascessem com o gene da atração pela tecnologia facilitando o aprendizado dos mecanismos que regem os meios digitais de transmissão e criação de cultura. A iniciativa do empresário da NIT com o seu projeto de inclusão digital nas favelas de Nova Delhi revela um dos muitos caminhos que devem ser abertos para que haja uma socialização nesse campo. Mais do que contribuir para a expansão do fenômeno do compartilhamento da cultura digital, o empresário sabe que é uma das maneiras de promover mobilidade social e, no campo mercadológico, formar os novos consumidores do segmento.
A educação sempre necessitou das tecnologias para melhorar a sua eficiência. Do lápis ao laptop o que se busca são condições mais facilitadas e eficientes de reter conhecimentos, gerar e compartilhar novos saberes. A internet oferece a interligação de conhecimentos que conduzirão, sem dúvida, à consolidação da Inteligência Coletiva. Porém, como houve a mão do homem para dar os primeiros passos dessa nova realidade, na escola é preciso que haja uma certa dose de monitoramento para que a utilização dessa tecnologia seja feita com ética e objetivos claramente voltados ao ensino e ao desenvolvimento individual. Mesmo que seja forte a ideia de que basta colocar um computador na frente de uma criança para que ela aprenda, como foi mostrado em “O Buraco do Muro”, o papel do professor é levar o aluno ao uso consciente dessa ferramenta.
Como uma faca, tecnologia pode ser usada tanto para fazer o bem, como também para promover o mal, dependendo do uso que se faz dela.

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